quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Filosofia de Alain Badiou em perspectiva (Revista Ethica. Cadernos acadêmicos, 2008.2)


APRESENTAÇÃO


Desde L’Etre et l’événement (1988), publicado no Brasil em
1997 como O Ser e o evento, Alain Badiou tem construído um sistema
filosófico impressionante por sua polivalência. Contra as tendências
antifilosóficas surgidas na França nos anos 1980 – considere-se tanto
as polêmicas geradas pelo “caso Heidegger”, quanto as diversas
desconstruções da tradição metafísica ocidental, as declarações sobre
a “morte” ou o “fim” da filosofia – e reagindo ao declínio da
centralidade político-econômica do marxismo e à consolidação da
ética como a moral do liberalismo democrático, Badiou afirma que a
filosofia tal qual foi instaurada pelo gesto platônico ainda é possível,
ainda existe. Sua realização se dando numa atualização desse gesto
inaugural, requer uma nova perspectiva do seu desenvolvimento
histórico. De fato, refazer tal gesto depende de uma série de “desuturações”
da filosofia em relação a outros saberes (ciência, arte,
política e amor) a fim de reestabelecê-los na sua relevância filosófica,
ou seja, como “condições” da filosofia. A marca determinante dessas
condições é um conjunto diferenciado de campos de produção de
verdades. De-suturada a filosofia poderá existir, já que ela não participa
tanto desta produção quanto organiza o espaço comum em que se
pensa a estrutura do procedimento da verdade, procedimento este
desencadeado por acontecimentos e cuja etapa fundamental é o
surgimento de novas formas de subjetividade, por mais raras que sejam.

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