quinta-feira, 5 de março de 2015

Programa de Pós-Graduação em Filosofia
PUCRS
Porto Alegre

Seminário

SISTEMA E ESTRUTURA IV
REALISMO MATÉMATICO OU CONSTRUTIVISMO GRÁFICO?

BADIOU CONTRA DELEUZE
Prédio 40 3o andar
1o Encontro: 12 de março de 2015


DESCRIPÇÃO:
Entre as filosofias confluentes com as teses da epistemologia francesa, antes da articulação da ontologia matemática no sistema de Alain Badiou, houve a filosofia do acontecimento e da multiplicidade de Gilles Deleuze. A transformação articulada por Badiou da filosofia de Deleuze marca um momento decisivo pelo contexto da consolidação da ontologia francesa do século vinte, inclusive o da sua refutação da ontologia fundamental de Heidegger. Neste seminário, pretende-se examinar a filosofia de Deleuze por meio da contestação e da mobilização sistemáticas articuladas por Badiou.

OBJECTIVOS
O livro publicado por Alain Badiou em 1997, Deleuze: o Clamor do Ser, despertou um dos debates mais vigorosos na filosofia francesa dos anos 1990. Encontra-se uma reivindicação ontológica baseada sobre o realismo que veio contestando a capacidade da filosofia deleuziana a realizar o projeto de criar uma filosofia da multiplicidade. A partir da perspectiva ontológica, o argumento de Badiou, segundo o qual a multiplicidade em Deleuze contém um retorno latente da figura do Um/Uno, é coerente. Desta forma, o realismo intrínseco confirma-se por ter a palavra verdadeira sobre a multiplicidade. Porem, nada é menos certo quando avalia-se a fenômeno-ontologia desenvolvida em Logiques des mondes, de 2006, onde a contribuição deleuziana circula incessantemente.
Num primeiro momento, abordaremos a leitura feita por Alain Badiou da obra deleuziana em na articulação da ontologia matemática intrínseca e da disputa desencadeada pelos deleuzianos. Se o confronto com a obra deleuziana leva a afirmar a coerência da ontologia de Badiou, afirmação que se deve já a uma incompreensão feita por Deleuze (e Guattari) em O que é a filosofia? sobre L’Être et l’événement, esta mesma filosofia auxiliou Badiou a compor a dimensão fenomenológica do sistema. A filosofia deleuziana engaja com uma construção topológica que encontra as falhas da teoria do sujeito fenomenológico por meio de uma análise inovadora dos modos de aparecer, cujos modelos são provenientes tanto da filosofia moderna quanto de interpretações da matemática de A. Grothendieck. A partir da perspectiva deleuziana, uma fenomenologia do sujeito já implique a figura do Um/Uno. Em Logiques des mondes, mesmo se Badiou optará por uma fenomenologia “objetiva" e “calculada”, em que não há sujeito manifesto antes de rupturas radicais nas práticas discursivas, o contexto da superação é deleuziano.
Num segundo momento, abordaremos a obra de Deleuze nas ramificações e, especialmente, nas desmedidas que o sistema de Badiou deixa de capturar. As perspectivas encontradas neste debate retomam duas propostas pelas quais se organizam as teorias da fundamentação da matemática, a saber, a teoria dos conjuntos, no caso de Badiou, e a teoria das categorias e dos topoi, no caso de Deleuze.

BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL:

Obras de Alain Badiou

Manifesto pela filosofia, RJ: Aoutra, 1991.
Conditions Paris: Éditions du Seuil, 1992.
Para uma nova teoria do sujeito. [PNTS] Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

Ética, um ensaio sobre a consciência do mal, RJ:Relume Duramará, 1995.
O ser e o evento RJ:Jorge Zahar Editor, 1996.
Lacan antifilosofia e o real como ato in Colóquio de psicanálise e filosofia – Sujeito e linguagem, RJ:Livraria e editora Revinter Ltda, 1997.
Da Vida como Nome do Ser. In.  ALLIEZ, Eric (org). Gilles Deleuze: uma VidaFilosófica. São Paulo: Editora 34, 2000. (p. 159-167)

Deleuze. O Clamor do Ser  Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 154 p.

Breve Tratado de ontologia transitória, Lisboa:Instituto Piaget, 1999B.
Conferências de Alain Badiou no Brasil. [CB] Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
“Um, multiples, multiplicité(s)”, in Multitudes, (1):195-211 (2000)

Pequeno manual de inestética, SP:Editora Liberdade, 2002.
Lacan e Platão: o matema é uma idéia? in Um limite tenso Lacan entre a filosofia e a psicanálise SAFATLE, W. (Org) SP:Editora USP, 2003A.

Logiques des mondes. L’Etre et l’événement 2. [LM] Paris: Éditions du Seuil, 2006a.
Mathematics and Philosophy. In: S. Duffy (ed.). Virtual Mathematics. The Logic of Difference. Manchester, UK: Clinamen Press, pp. 12-29, 2006b.

Oito Teses sobre o Universal. [OTU] In: Revista Ethica. Cadernos acadêmicos. Trad. N. Madarasz. vol. 15 (2), pp. 41-50, 2008.

Second Manifeste pour la philosophie. [MP2] Paris: Fayard/Ouvertures, 2009.

Le Fini et l’infini. Paris: Bayard, 2010.

L’Aventure de la philosophie française contemporaine. Paris: Ed. De la Fabrique, 2012.

Tho, Tzuchien. New Horizons in Mathematics as a Philosophical Condition. Parrhesia. Translated with an introduction by Tzuchien Tho, n. 3, pp. 1-11, 2007.

Obras de Gilles Deleuze
Bergsonismo. São Paulo: Ed. 34, 1999.
Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
Crítica e clínica. Rio de Janeiro: 34, 1997.
Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
Empirismo e subjetividade. São Paulo: 34, 2001.. Espinosa. Filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002..
Foucault. Lisboa: Veja, [1987].. Imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
Nietzsche
Cinema
A Dobra
Lógica do sentido

Com Feliz Guattari
 O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
Kafka, por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
O que é filosofia? Rio de Janeiro: 34, 1992.
Mil platôs. Ano zero. Rostidade. Volume III. Rio de Janeiro: 34, 1996.
Mil platôs. Introdução: Rizoma. Volume I, Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.
Mil Platôs Postulados da Lingüística. Volume II. Rio de Janeiro: 34, 1995.
Mil platôs. Devir-Intenso, Devir-Animal, Devir-Imperceptível. Volume IV. Rio de Janeiro: 34, 1995.
Mil platôs. Tratado de nomadologia: a máquina de guerra. Volume V. Rio de Janeiro: 34, 1995.

Com C. Parnet. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998

Bibliografia complementar

Antti Veilahti.  Alain Badiou's Mistake --- Two Postulates of Dialectic Materialism.  Math arXiv:1301.1203v22013, 2013.

Benaceraff, P.; Putnam, H. (ed.). Philosophy of Mathematics: Selected Readings. Londres: Cambridge University Press, 1983.

Cantor, G. Fondements d’une théorie générale des ensembles. (trad. colletive). Cahiers pour l’analyse, 10, pp. 35-52, 1969.

Chateaubriand, Oswaldo. Lógica e Ontologia. In: Bonaccini, J. A. et al. (org.). Metafísica, história e problemas. Atas do I Colóquio Internacional de Metafísica. Natal: UFRN, 2006. pp. 247-261.

Cohen, P. Set theory and the continuum hypothesis. Nova York: Benjamin, 1966.

Costa, Newton C. A. da. Conhecimento científico. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.

Costa, Newton A. C.; Bueno, Otávio. Lógicas não reflexivas. Cosmos e Contexto, n. 7, 2012.

Desanti, J.-T. Quelques remarques à propôs de l’ontologie intrinsèque d’Alain Badiou. Les Temps modernes, n. 526, pp. 61-71, mai 1990.

Dummett, M. Wittgenstein’s Philosophy of Mathematics. Philosophical Review, n. LXVIII, 1959.

Duffy, S. (ed.). Virtual Mathematics. The Logic of Difference. Manchester, UK: Clinamen Press, 2006.

Fraser, Z. The Law of the Subject: Alain Badiou, Luitzen Brouwer and the Kripkean Analyses of Forcing and the Heyting Calculus. Cosmos and History: The Journal of Natural and Social Philosophy, vol. 2, n. 1-2, 2006.

Gödel, K. The consistency of the axiom of choice and the generalized continuum hypothesis. Proceedings of the National Academy of Sciences (U.S.A.), 24, pp. 556–557, 1938.

Grattan-Guinness, I. The Search for Mathematical Roots (1870-1940). Logics, Set Theories and Foundation of Mathematics from Cantor to through Russell and Gödel. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2000.

Grothendieck, A. Récoltes et sémailles: réflexions et témoinage sur le passé d’un mathématicien. Montpellier : CNRS, 1986.

Jech, T. What is Forcing? Notices of the AMS, vol. 55, n. 6, pp. 692-693, Junho-Julho 2008.

Jurdant, Baudoin (org.). Impostures cientifiques : les malentendus de l’affaire Sokal. Paris: Éd. La Découverte/Alliage, 1998.

Kim, J. What are Numbers? Synthese, n. 190, pp. 1099-1112, 2013.

Livingston, P. The Politics of Logic. Londres: Routledge, 2011.

Madarasz, N. On Alain Badiou’s Treatment of a Transitory Ontology. In: Gabriel Riera (ed.). Badiou: Philosophy and its Conditions. Albany, NY: State University of New York Press, 2005.

Marquis, Jean-Pierre. Category Theory. In: Edward N. Zalta (ed.). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Edição Primavera 2011). .

McLarty, Colin. “The uses and abuses of the history of topos theory”, British Journal for the Philosophy of Science, 41 (1990) 351–75.
-------------- “The Last Mathematician from Hilbert’s Gottingen: Saunders ¨ Mac Lane as Philosopher of Mathematics”, in British Journal of Philosophy of Science. 58(1), 1997, pp. 77-112.

------------- Book review: Alain Badiou, Mathematics of the Transcendental, A. J. Bartlett and Alex Ling (trs.), Bloomsbury, 2014, in Notre Dame Philosophical Reviews.  09.31.2014. < http://ndpr.nd.edu/news/50591-mathematics-of-the-transcendental/> (Acessado: 7 de outubro de 2014.)

Nirenberg, Ricardo L.; Nirenberg, David. Badiou’s Numbers: A Critique of  Mathematics as Ontology. In: Critical Inquiry 37 (Verão 2011),  pp. 583-614, 2011.

Platão. Parmênides. Trad. Maura Iglesias. São Paulo: Editora Loyola, 2003.

Priest, G. An Introduction to Non-classical Logics. Londres: Cambridge University Press, 2001.

Prigogyne, I. e I. Stengers, A Nova Aliança – Metamorfoses da ciência. Brasília: UNB Editora, 1984.

Prigogyne, I. e I. Stengers. O Fim das Certezas : Tempo, Caos e as Leis da Natureza. São Paulo : UNESP Editora, 1996.

ROQUE, T. História da matemática. Uma visão crítica, desfazendo mitos e lenda. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 2012.

Salanskis, J.-M. Philosophie des mathématiques. Paris: J. Vrin, 2008.
                                                                                                                                          
Silva, Jairo José da Silva. Filosofias da matemática. São Paulo: Editora UNESP, 2007.

Van Heijenoort, J. (ed.). From Frege to Gödel. Cambridge, Mass.: Harvard, 1967